Movimentos e explicações dos resultados financeiros de armadores
- Leggio
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Artigo publicado originalmente no site Valor Investe, elaborado por Camila Affonso sócia do Leggio Group, em parceria com o colunista Carlos Heitor Campani.
Uma análise do desempenho financeiro dos líderes desse importante nicho do setor de navegação no país
Bom dia, Pessoal! No artigo de hoje, coescrito novamente com Camila Affonso, sócia do Leggio Group e seu time de consultores, temos como objetivo analisar o desempenho financeiro das principais empresas de navegação de capital aberto nos últimos anos, explorando suas participações no mercado global e o papel das alianças estratégicas que têm moldado o setor. Além disso, será discutido como o cenário global, marcado por desafios operacionais e a necessidade de adaptação, gerou oportunidades para o fortalecimento e crescimento destas grandes companhias. O tema é ao mesmo tempo relevante e específico, motivo pelo qual trago para esta coluna a parceria com o time Leggio, especialistas no tema e no setor.
O setor de navegação é um dos principais pilares do comércio global, responsável pelo transporte de cerca de 90% do volume total de mercadorias no comércio mundial. Neste contexto, os armadores, donos dos navios e dos contêineres utilizados nas operações, ocupam um papel central no mercado. Gigantes do setor como a Maersk, MSC, CMA CGM, Hapag-Lloyd, COSCO Shipping e Evergreen Marine, são exemplos de companhias que operam com grandes frotas de navios mercantes e conectam continentes por meio de uma rede de rotas internacionais.
Os armadores geralmente concentram seus esforços na otimização de seus ativos, buscando maximizar a movimentação de contêineres no menor tempo e com o menor número possível de embarcações. Para isso, adotam estratégias voltadas à obtenção de economias de escala, o que pode incluir a concentração de cargas em infraestruturas específicas de seu interesse. Esse direcionamento influencia diretamente a competitividade entre portos localizados em regiões próximas. Nesse cenário, é comum a formação de parcerias ou associações formais com grandes armadores, garantindo uma demanda estável para novos empreendimentos, as chamadas alianças.
Até 2024 existiam 3 principais alianças, sendo a primeira formada pela MSC e Maersk, a segunda pela CMA CGM, COSCO e Evergreen e, a última, formada pela ONE, HMM, Yang Ming e Hapag Lloyd. Para 2025, houve a alteração de algumas alianças, criando-se a "Gemini" (formada pela Maersk e Hapag-Lloyd), a "Ocean Alliance" (composta pela OOCL, CMA CGM, Cosco e Evergreen) e a "Premier Alliance" (que reúne a ONE, HMM e Yang Ming). Essas parcerias têm fortalecido a competitividade das empresas, ao mesmo tempo em que possibilitam uma maior eficiência operacional, permitindo o compartilhamento de ativos para otimizar os fluxos logísticos. Isso resulta em custos mais baixos e maior capacidade de resposta às demandas do mercado. A figura abaixo destaca o comparativo das principais alianças até 2024 e as atuais.

Embora a principal área de atuação dessas empresas seja o mercado marítimo, a adaptação ao cenário logístico global permitiu que elas expandissem suas operações por meio da aquisição de empresas de logística, o que também contribui diretamente para os resultados financeiros demostrados. Exemplos disso incluem a CMA CGM, que adquiriu a CEVA Logistics, a Maersk, com a aquisição da LF Logistics, e a Hapag-Lloyd, que comprou a NileDutch. A integração da cadeia logística tornou-se um ponto chave para atrair clientes, promovendo uma cadeia mais integrada e eficiente, com foco na redução dos custos logísticos.
Podemos citar alguns outros exemplos de movimentos de integração destas cadeias a partir de aquisição de empresas listadas no Brasil por estes armadores. Por exemplo da aquisição de 48% da Santos Brasil pela CMA CGM em setembro do ano passado e, semanas após, a aquisição de 56% da Wilson Sons pela MSC.
Dessa forma, fim de se realizar uma análise do desempenho financeiro destes armadores, utilizaremos como referência a Maersk, CMA CGM e Hapag-Lloyd, uma vez que são listadas no mercado de ações global e tem seus resultados financeiros publicados. No gráfico a seguir, é apresentado a evolução da receita líquida trimestral de cada uma destas empresas (representada pelas barras) e suas respectivas margens EBITDA (representadas pelas linhas) desde 2020 até o 3° trimestre de 2024.

Inicialmente, destaca-se que a Maersk e a CMA CGM apresentam valores de receitas mais elevadas, com a CMA CGM ultrapassando a Maersk em receita no segundo trimestre de 2024. Apesar da receita ser inferior aos demais concorrentes, a Hapag-Lloyd se destaca pela sua maior margem EBITDA. Entretanto, observamos uma evolução de resultados bastante similar entre as 3 empresas, sendo um período inicial de crescimento se iniciando principalmente em 2021 e 2022, uma acentuada queda no final de 2022 e ao longo de 2023, e por fim um segundo período de crescimento ocorrendo em 2024. Vamos entender o motivo destes movimentos?
Para isso, voltemos em 2020. A pandemia de COVID-19, embora tenha causado desafios iniciais em muitos setores, teve um efeito oposto para o setor de navegação. A crise sanitária levou a uma elevação na demanda por produtos de bens de consumo, com a aceleração do comércio eletrônico e o aumento das necessidades de suprimentos médicos e alimentos. Isso gerou uma movimentação intensificada de mercadorias e, consequentemente, aumentou a demanda por transporte marítimo.
Ou seja, a pandemia trouxe consigo uma série de transformações no mercado global, resultando em um aumento na concentração de contêineres, pois muitos países exportaram em grande volume, mas enfrentaram dificuldades para encontrar contêineres disponíveis para o retorno, enquanto os países que importaram em excesso acabaram concentrando contêineres vazios em seus portos. Isso gerou uma sobrecarga nos sistemas logísticos e, por sua vez, elevou os custos de frete.
Em seguida, os armadores começaram a apresentar um crescimento mais elevado na receita, principalmente em 2021 e 2022, impulsionado pela retomada da economia global após a retração causada pela pandemia, que gerou um aumento na demanda por bens de consumo e impulsionou o transporte marítimo. Além disso, o impacto da pandemia nas cadeias de suprimentos, resultante de interrupções e atrasos nas rotas globais, também contribuiu para o aumento das taxas de frete, especialmente devido ao aumento dos fluxos na rota de Suez, entre a Ásia e a Europa, beneficiando estas empresas, a exemplo da Maersk que teve um aumento de 32% da receita em 2022 em relação ao ano anterior.
O início da queda dos resultados financeiros, no final de 2022 e 2023, foi marcado a partir da normalização da demanda aliada ao crescimento da frota e a expansão da capacidade dos navios após o período de alta demanda em 2021 e 2022, afetando negativamente os fretes marítimos e resultando na queda das taxas de frete. Além disso, a desaceleração do crescimento econômico global em 2023, combinada com a inflação em diversos países, provocaram um aumento nas taxas de juros, encarecendo o crédito e afetando negativamente o investimento e o consumo.
Por fim, o segundo período de crescimento em 2024 é impulsionado pela recuperação gradual da economia, a normalização das condições de mercado e o controle da inflação. Esse aumento de receita também reflete a alta nos preços dos fretes marítimos, que foram impactados pela alta demanda e fatores globais como secas, conflitos e greves. A seca no Canal do Panamá, agravada pelo El Niño, reduziu o tráfego na principal rota comercial, enquanto ataques no Mar Vermelho forçaram desvios de rota e greves nos portos dos EUA interromperam as operações. Além disso, o aumento do preço do petróleo, devido às tensões no Oriente Médio, trouxe mais volatilidade aos custos de transporte.
As margens de lucro destas empresas tenderam a seguir o mesmo comportamento histórico. Vale destacar que em 2023, a diminuição nas receitas impactou diretamente os lucros das empresas, resultando em margens negativas no quarto trimestre. Esse cenário desafiador foi, porém, seguido por um processo gradual de recuperação no ano de 2024, à medida que as condições de mercado foram sendo normalizadas.

O mercado de transporte marítimo é de fato uma das opções mais econômicas para o transporte de grandes volumes, mas como visto acima, o custo do frete pode ser altamente volátil, impactando positivamente os resultados dos armadores. Vários fatores podem influenciar esses custos, como o aumento do preço do combustível, tarifas portuárias, mudanças na demanda global e a capacidade disponível destes ativos. Assim, embora o setor tenha enfrentado desafios operacionais, como citado, os grandes armadores aproveitaram este aumento da demanda e das tarifas de frete, resultando em resultados recordes.
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Link do artigo publicado no Valor Investe: https://valorinveste.globo.com/blogs/carlos-heitor-campani/coluna/movimentos-e-explicacoes-dos-resultados-financeiros-de-armadores.ghtml
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